sábado, 31 de dezembro de 2011

Segunda chance


Segunda chance

Verão de 2011. Uma cidade qualquer do Sul. Pouco diferem uma da outra em termos de estereótipo. Abayomi respirou fundo para responder. Naqueles jantares, sentia-se à vontade para lançar seus argumentos contra aquelas ideias de seus pares. Um adultério, um delito, uma quebra de confiança, dar-se-ia uma segunda chance ao autor de qualquer dessas atitudes, antes de condená-lo, definitivamente? Esse era o mote que os convivas abordavam.

Abbas, o astuto, expôs seus pensamentos: - Depende de quem o pratica. Adultério, desde muito tempo, não é mais motivo de rompimento, a menos que seja o pretexto que se esperava. Portanto, é normal uma segunda chance. Um delito, depende da classe social de quem o pratica. Poderá ser absolvido ou considerado culpado na medida de sua influência ou do seu poder aquisitivo. Em qualquer caso, sempre haverá justiça, a justiça sob o ponto de vista do mais poderoso. Nesse caso, a segunda chance é relativa.

Clodoaldo, o contador, por sua vez, argumentou: - Segunda chance? Praticou uma vez, amanhã fará novamente. Sem chance! Simplificou.

Layla, a rebelde, fiel à sua rebeldia: - Vocês querem que ele acabe com quantas pessoas antes de o liquidarem? Uma, duas, decidam! Para mim, a primeira é suficiente.

Abayomi, a indígena, agradeceu a chance que lhe deram para expor sua tese a respeito da segunda chance, com perdão do trocadilho:

- O que faríamos de nossa vida, caso tivéssemos uma outra oportunidade? Mudaríamos tudo, ou apenas retocaríamos alguns capítulos? Não sei bem o que faria, mas sei que perdoaria mais. Aprendi que se não formos capazes de darmos uma segunda chance, também não o somos merecedores. E mais, o número de chances que você dá a alguém depende do tamanho do seu coração.

Ao que Clodoaldo retrucou: - O mundo está cheio de boas intenções, como se diz.

Abayomi, cujo significado é encontro feliz, então, após sua profunda respiração, disse: - Todos erram, apenas alguns têm direito à segunda chance.

E mudaram de assunto.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A visita do Franco


Outro dia, o Franco esteve em minha casa. Seus olhos, sempre atentos aos livros, localizaram um exemplar, raridade, cujo título é Eu, Júlio Verne.

A Manuela, sua filha, tem um movimento que impressiona: folheia revistas, livros com tal graciosidade, e expressa um sorriso de sua própria manobra. A Ágata disse que isso vem desde os quatro meses de idade!  Saberia ela que é uma gafanhotinha?

Voltemos ao Verne. Eu, Júlio Verne, que se encontrava na mão curiosa do Franco, tem algumas pistas que levam à origem daquele sonho, o esperanto, assim como à inspiração para o epitáfio de um senhor que atendia por Dr. Killer.

Abre aspas, Júlio Verne interessava-se pelo esperanto, a língua universal... Em uma de suas últimas obras, O Eterno Adão, o Escritor usa expressões e frases de um idioma que, segundo ele, será falado por nossos descendentes longínquos que emergirão da Atlântida. (Mauchien), fecha aspas.

Em outra passagem, J.J. Benítez, autor de Eu, Júlio Verne, fala do epítáfio do lobo velho: "Rumo à imortalidade e à eterna juventude". Não pensem que era apenas uma frase... talvez fosse, mas é uma frase cabalística, criptografada, que encerra um hieróglifo de seu testamento espiritual. Tal testamento encontra-se no livro acima mencionado. Fala de seus três grandes amores: o mar, a música e a liberdade.

Mais detalhes você encontrará lendo Eu, Júlio Verne. Poderá encontrá-lo em qualquer sebo pela bagatela de cinco reais. Boa leitura.

Quando você ler as obras de Verne, o urso velho, conhecerá um pouco mais de um homem chamado Aristeu.

Abç

Charles

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal


Em administração, aprendemos que o planejamento é fundamental, senão imprescindível para o bom andamento de projetos. Empurrava o carrinho de mercado. Véspera de Natal, intermináveis filas e congestionamentos. Todo o consumo será permitido*, alusivo ao grande dia. De relance, corri os olhos pelos itens a comprar. Um insight surgiu: planejar! Ok!  O gelo ficará por último. Ãhamm!

Entretanto, a vida vem do caos. Dos acasos. Planejar é bom, aventurar é melhor.

Um Natal aventuroso a todos, ops...quase ia dizendo…com consumo consciente...recuei, a roda precisa girar!


* Reescrevi Jabor em Toda nudez será castigada.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Direito e os filhos do vento


Passam-se os dias, ficam as lembranças. E naqueles distantes dias da minha infância, em frente a minha casa, de quando em vez, instalavam-se os festivos ciganos, e juntos traziam as magias de um povo nômade. Mas era por pouco tempo, logo partiriam em direção a lugar nenhum.

Na verdade, os ciganos são aquilo que os povos gostariam de ser, mas a civilidade não permite: livres.

Se falarmos dos direitos humanos das minorias, e se perguntássemos se eles pagariam algum preço por isso, certamente, não teríamos uma resposta positiva. Há sempre uma tentativa de enquadrar aquelas culturas que não pertencem à "civilização".

A liberdade que os filhos do vento tem não existe porque uma ordem jurídica assim o positivou, existe porque não reconhecem que há uma ordem jurídica.

Não havia tempo para amizades, nem se importavam com a vizinhança. Logo partiam, os filhos do vento, sem criarem raízes, sem se envolverem com nossas filosofias. Enquanto falamos e lutamos por uma tal liberdade, alheios a isso e ao resto, vivem-na.

Encantos e segredos. Musicalidade e magia. Que importa se como minorias são discriminados, não tem nacionalidade definida, não constituem uma nação (?) e nem votam e são votados, os tais direitos políticos. Que importância tem isso para a vida desapegada das convenções sociais? Nenhuma.

Dirá você que o título não condiz com o texto. Pois bem, altere-o para A desimportância do Direito para os filhos do vento. Não contente? Ignore-o ou intitule-o ao seu bel-prazer.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O Espírito do Homem Serrano

     Deparei-me com um modo de vida um tanto quanto diferente daquele que estava acostumado a ver. Notei que se tratava de princípios quase extintos. 

   Está na alma do homem serrano o instinto de preservação. Se vê desde logo, quando se avista um tipo, em seu caminhar. E sua fala alongada não deixa dúvidas. O sossego do serrano anda no compasso da vida. 

   Nem todos têm essa índole, o buraco da camada de ozônio que o diga.  Avança-se veloz para o futuro. Explora-se o paraíso que estava pronto.

   Querer que o nativo assimile o ritmo da espécie urbana é não entender o seu espírito. É querer transformá-lo em mais um, entre tantos. 

   

domingo, 5 de junho de 2011

UNISC - VIII SEMINÁRIO INTERNACIONAL*

Contradições

O mesmo fumo que abrevia vidas, que antecipa problemas de saúde também é o mesmo que patrocina um grande evento de demandas sociais.

O mesmo seminário que discute a cidadania também é o mesmo que admite que poucos privilegiados têm condições de participar.

O mesmo poder que barra uma reivindicação corporativa dos jornalistas, porque a  liberdade de expressão não precisa de diploma, é o mesmo poder que exclui três milhões de bacharéis em direito de exercerem sua profissão.


* Santa Cruz do Sul (RS), Demandas sociais e políticas públicas na sociedade contemporânea, dias 2 e 3 de junho de 2011.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O conto do sábio chinês

        Nesses últimos dias, parece que os professores, combinados, resolveram nos empurrar para uma outra dimensão.  Pensam, talvez, que se formos para lá, quando voltarmos, seremos os alunos ideais que imaginam. Sei que não é isso. Digo por provocação, apenas. Mas vejam: o professor Vladimir pediu para vermos Matrix ( outra dimensão) e para lermos a alegoria de Platão, o mito da caverna, no Livro VII da República (outra dimensão?).  O professor Luís Afonso fala do sábio chinês (ouça o Raul Seixas no link abaixo). Isso sem falarmos do Quinto Elemento (depois da água, ar, terra e fogo): a não-matéria. Aristóteles que começou com essa história do quinto elemento, talvez até inspirado em Platão, e desde então, muitas especulações se seguiram, e nunca mais o mundo deixou de procurar a quinta dimensão, o universo paralelo, a antimatéria.


              Esse mundo das ideias, que temos estudado e debatido em sala de aula, é, na verdade, o mundo paralelo. Quando escapamos por algumas horas das atividades meramente cotidianas e nos inserimos no universo abstrato, estamos vivendo a experiência fantástica de navegar na quinta dimensão. Faz-nos voltar à realidade o boleto da mensalidade, a prova da próxima aula.




O Conto do Sábio Chinês

Raul Seixas

Composição : Raul Seixas

Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...
Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...
Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês...(2x)

domingo, 3 de abril de 2011

Os rebeldes não dizem sim

A rebeldia não deve ser sufocada, devereia ser entendida e administrada, se possível.

Ao contrário do senso comum, os rebeldes não são anomalias, são seres muito próximos do bicho homem. A diferença é que na maioria das vezes dizem não, quando todos esperavam que disessem sim, e dizem sim quando estaria na cara que diriam não. É fato que são incoerentes, pois se há uma palavra que odeiam é essa tal de coerência.

Que destino teria uma sociedade sem seus rebeldes?  Ora, em tal sociedade todos diriam sim, eu concordo. Um rebelde não lidera seguidores, pois representa a antítese de um exército. A rebeldia está em todos nós em maior ou menor grau, de forma latente. Mas o que se percebe é que o consenso pacifista que orienta algumas decisões torna invisível o grito de alguns poucos rebeldes que desafiam o establishment. Por isso, em muitos casos, tem-se a impressão que eles não existem.

Pessoas exaltam a rebeldia de alguns ícones históricos, mas sufocam o pequeno rebelde que tenta se insurgir em seu terreiro. Queremos rebeldes domados, dominados. Espelhamo-nos em rebeldes de outros tempos, de décadas que já se foram. Idealizamos clones. Esquecemos que os indomáveis não se enquadram, ora, são rebeldes, uns sem causa, muitos sem ideologia, simplesmente porque não precisam de uma para viver.

Cazuza

Composição : Cazuza / Frejat
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...
Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...
O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Pra nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..
Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Pra viver...
Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver..
Ideologia!
Pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...

sábado, 26 de março de 2011

A informação, o conhecimento e a imaginação

Se o conhecimento fosse uma lâmpada acesa, a informação seria essa mesma lâmpada sem eletricidade. Certo, mas e a imaginação? Se a eletricidade é uma força (pois acende a lâmpada), logo, ela pode mover um carro. Portanto, um carro elétrico é a imaginação.


Diante disso, ocorre a pergunta:

- Se o índio tivesse vencido a batalha contra o homem branco, o mundo seria outro?

Seria, mas não na sua essência, porque nesse caso, o índio teria na alma o espírito do homem branco, e este teria na alma o espírito daquele. Ou seja, seriam os mesmos, só que com nomes trocados. E você, o que me diz?

Mas afinal, que relação tem essa pergunta com o texto? Ora, a imaginação.




Imagine

John Lennon





Composição : John Lennon
Imagine que não exista nenhum paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não haver países
Não é difícil de fazer
Nada para matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz


Você pode dizer:
Eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu espero que algum dia
Você vai se juntar a nós
E o mundo será como um só


Imagine não possessões
Gostaria de saber se você pode
Não há necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade de homens
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo


Você pode dizer:
Eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu espero que algum dia
Você vai se juntar a nós
E o mundo viverá como um único.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O conhecimento está no ar

O conhecimento está no ar. Como assim, no ar? Quando se assiste a uma aula e se tem a oportunidade de ouvir e participar de debates; quando há a oportunidade de andar pelos corredores de uma universidade e conviver com diferentes cabeças; quando se tem à disposição uma biblioteca da dimensão dessa da Unesc, pode-se sentir na face o sopro do conhecimento. Portanto, o conhecimento está no ar. Se se vai absorvê-lo por meio de estudos, pesquisas e observações, já é uma decisão de cada acadêmico, mas o conhecimento estará ali, sendo criticado, reexaminado, ampliado; no ar, democraticamente, no ar.

terça-feira, 15 de março de 2011

Ciência Política: uma aula da professora Janete Trichês

Da loucura, da opção entre Lula e Dilma, de Cuba, da maturidade política.

O estudante é por natureza um ser inquieto. Há uma busca do conhecimento, da sabedoria naqueles abstratos conceitos que se depara em seus estudos. A inquietude é fruto dessa busca. A notícia ruim é que essa busca é inglória, inalcançável, pois ninguém se torna um sábio, o máximo que poderá conseguir é descobrir o tamanho de sua própria ignorância,  e que, portanto, a inquietação será permanente. A notícia boa, bem, a notícia boa eu não sei.

Vamos à aula. E então a nossa colega Lisa disparou uma pergunta à professora: " Se você tivesse que escolher entre Lula e Dilma, qual seria sua opção?" Mineiramente, a Janete respondeu: "Pergunte-me isso ao final do primeiro mandato, aí eu terei uma opinião sobre a sua obra pronta, que provavelmente será o seu único (mandato)." E Lisa: "Obrigada, está respondida."

Ainda que tentasse uma saída neutra, o animal político que habita o interior de nossa professora o induziu àquele "que provalvelmente será o único." Uma opção subliminar, traindo sua tentativa de neutralidade.

O colega Élcio queria uma definição: "Professora, Cuba, na sua opinião, é ou não é um país Totalitário?" Fez-se silêncio. Eu olhei para o Élcio, ele olhava para a professora, e ela devia estar pensando: Fidel, não vou lhe abandonar agora, a revolução deve continuar. "Cuba é uma Democracia e não é uma Democracia (como assim?). Não é uma Democracia Liberal, mas é uma Democracia na medida em que há eleições diretas para todos os níveis (ah bom). Não é uma Democracia quando o mesmo grupo continua no poder desde sempre. Existem graduações de Democracia: Representativa, Participativa, Direta e Indireta", respondeu.

Abordou-se também o conceito de maturidade política, pertinente diante dos questionamentos travados nesse dia, que é justamente aceitar a diversidade de opinião, e entender a grandeza da tolerância.  E mais, o conflito, inerente aos debates, está na essência da Democracia, não deve ser evitado,  já que reflete o pluralismo político.

Foi rica essa aula. E a professora filosofou outra vez. "Os loucos, os suficientemente loucos, podem mudar o mundo, os normais se conformam com ele. Portanto, meus alunos, não tenham medo de serem loucos", disse.

Ser louco?  Sim, só um pouco, mas foi a professora que disse.

sábado, 12 de março de 2011

Direitos humanos: perspectiva histórica

Breves considerações de um estudante

Os direitos humanos surgem da luta contra a opressão. Se hoje toda pessoa nasce com direitos fundamentais assegurados é porque ontem uma sociedade se organizou e lutou para conquistá-los. Esses direitos começaram a ser reconhecidos ao longo da história desde os primeiros direitos concedidos aos estrangeiros pelo povo romano da antiguidade: jus gentium, o direito das gentes.

A história da humanidade pode ser contada a partir da história de luta em busca da dignidade humana. Nenhum direito surgiu sem que muitas vidas tivessem sido sacrificadas por isso. O tratato de Vestfália, de 1648, encerrou a Guerra dos 30 anos, e garantiu igualdade de direitos entre a comunidade cristã e  protestante no território alemão. Seria então o marco do primeiro tratado internacional com medidas de proteção aos direitos humanos. Assim, reconhecia-se, nesse início da Era Moderna, o Direito Natural. 

Outras tantas acepções seriam utilizadas para designar a mesma categoria jurídica: além do já mencionado direito natural, direitos humanos, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos, direitos fundamentais, liberdades fundamentais e liberdades públicas.

Hannah Arendt, filósofa política, chama atenção para o fato de que "os homens não nascem livres e iguais, a liberdade e a igualdade são opções políticas". Essas opções políticas serão frágeis ou não na medida da força de um povo pela luta de seus direitos.

A criação da ONU, em 1945, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgada por essa mesma entidade três anos após a sua criação, como respostas às atrocidades da Segunda Guerra Mundial, são de vital importância para o futuro dos direitos humanos. Vários Estados passaram a incluir os princípios dessa declaração universal em suas constituições.

Teóricos não são pacíficos em aceitar a classificação dos Direitos Humanos em forma de gerações, ainda que essa classificação não melindre a sua indivisibilidade (devem ser sempre considerados no seu conjunto), a sua inalienabilidade (ou seja, intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis) e sua universalidade (todos os seres humanos serão tratados com dignidade).

A primeira geração dos direitos humanos abrange as liberdades individuais (liberdade de locomoção, de expressão, de culto, de associação), a qual se firma com a Revolução Francesa, cujo lema era exatamente: liberdade, igualdade e fraternidade. A segunda geração se reporta à igualdade (direitos econômicos, sociais, culturais) e tem seu marco nas cartas constitucionais do México, em 1917, e da Alemanha, em 1919. A terceira geração assim entendida como sendo a fraternidade, que engloba os direitos difusos (não podem ser concedidos a um ou outro individualmente), como o meio ambiente equilibrado, o direito dos consumidores e o desenvolvimento de povos e nações. Ainda se conjectura uma quarta geração de direitos humanos, o direito tecnológico, que se refere à proteção do patrimônio genético da humanidade (o biodireito) e o direito à informação (inclusão digital). O direito à paz, sustentam alguns, seria nessa classificação, tendo em vista sua importância, a quinta geração dos direitos humanos.

Eis, portanto, de forma breve, algumas considerações sobre a busca histórica do respeito à dignidade da pessoa humana.

As grandes questões que se colocam, para finalizar, são:  como garantir os direitos solenes, e como impedir que continuem sendo violados.

terça-feira, 8 de março de 2011

Longa viagem

Conheço pessoas que fazem viagens, longas viagens. A vida é movimento, daí a necessidade de as pessoas se moverem. Uns enfrentam a inóspita Cordilheira dos Andes, outros se aventuram pelo Caminho de Santiago. Viajei também para muitos lugares. Mas a mais instigante viagem que uma pessoa pode fazer é viajar para o seu próprio mundo interior. Lá se encontram as respostas para as perguntas que nunca ousamos fazer. Para lá, poderemos levar, de carona, as coisas que gostaríamos que fossem e podê-las sentir como se de fato existissem. Essa é a longa viagem da imaginação. Não precisa reserva antecipada e nem há necessidade de check-in. Um dia, quando as folhas de outono começavam a cair, eu fiz essa viagem. Seria o princípio do inverno, mas quando retornei já era primavera. Venha comigo, pegue sua bagagem e vamos lá. Não se preocupe com dinheiro, nem com roupas para passear. Lá, no mundo interior, as coisas que você pensar se tornam reais. Mas cuidado, a vida real não perdoa os lunáticos, e quando você voltar dessa longa viagem, perceberá que muitas verdades absolutas deste mundo não passam de mitos e dogmas sem sentido. Há guias que nos auxiliam nessas longas viagens da imaginação: livros, poemas, canções e filmes argentinos. Nada mais real do que esse mundo ilusório.
Boa viagem.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Direito não é nada

Quando comecei a estudar direito eu tinha muitas certezas e algumas dúvidas. Agora, duas semanas depois, eu não tenho mais certeza de nada. Tenho muitas perguntas, que me levam a outras perguntas, que, enfim, me fazem pensar.

Viajamos no tempo. Sobrevoamos a antiga Grécia e nos detivemos em Atenas. Ali localizamos Sócrates que influenciou Platão que influenciou Aristóteles que influenciou meio mundo, ou um mundo e meio, até pelo menos a Idade Média.

Ah os gregos, sempre os gregos. É deles a concepção de que o trabalho material é algo que deprecia, e somente a atividade de lazer é produtiva. Sábios eram os gregos.

E, para ficar entre eles. "O homem não possui outro juiz além de si mesmo".  Máxima de Protágoras, o maior dos sofistas, que me fez lembrar Raskólnikov, em Crime e Castigo de Dostoéviski. A consciência do crime é a punição maior que o homem pode ter, já a punição pela lei dos homens é mera formalidade da vida social.

Mas voltemos ao direito e seu conceito. Diria que não foi um jurista, mas um poeta (Carlos Drummond de Andrade) que melhor me pareceu conceituar direito, nesses primeiros dias de aula.  "As leis não bastam, os lírios não nascem das leis".

Com efeito, "o direito é fruto de embates políticos; não transforma, nem conserva a realidade; reduz a contingência inerente à comunicação; mas por si só, o direito não é nada. Não existe. O que existe são as pessoas, as relações e os sujeitos sociais. São estes que, se valendo do direito, transformam ou conservam seu status quo".

Por fim, os lírios não nascem das leis, nem os poetas.