Segunda chance
Verão de 2011. Uma cidade qualquer do Sul. Pouco diferem uma da outra em termos de estereótipo. Abayomi respirou fundo para responder. Naqueles jantares, sentia-se à vontade para lançar seus argumentos contra aquelas ideias de seus pares. Um adultério, um delito, uma quebra de confiança, dar-se-ia uma segunda chance ao autor de qualquer dessas atitudes, antes de condená-lo, definitivamente? Esse era o mote que os convivas abordavam.
Abbas, o astuto, expôs seus pensamentos: - Depende de quem o pratica. Adultério, desde muito tempo, não é mais motivo de rompimento, a menos que seja o pretexto que se esperava. Portanto, é normal uma segunda chance. Um delito, depende da classe social de quem o pratica. Poderá ser absolvido ou considerado culpado na medida de sua influência ou do seu poder aquisitivo. Em qualquer caso, sempre haverá justiça, a justiça sob o ponto de vista do mais poderoso. Nesse caso, a segunda chance é relativa.
Clodoaldo, o contador, por sua vez, argumentou: - Segunda chance? Praticou uma vez, amanhã fará novamente. Sem chance! Simplificou.
Layla, a rebelde, fiel à sua rebeldia: - Vocês querem que ele acabe com quantas pessoas antes de o liquidarem? Uma, duas, decidam! Para mim, a primeira é suficiente.
Abayomi, a indígena, agradeceu a chance que lhe deram para expor sua tese a respeito da segunda chance, com perdão do trocadilho:
- O que faríamos de nossa vida, caso tivéssemos uma outra oportunidade? Mudaríamos tudo, ou apenas retocaríamos alguns capítulos? Não sei bem o que faria, mas sei que perdoaria mais. Aprendi que se não formos capazes de darmos uma segunda chance, também não o somos merecedores. E mais, o número de chances que você dá a alguém depende do tamanho do seu coração.
Ao que Clodoaldo retrucou: - O mundo está cheio de boas intenções, como se diz.
Abayomi, cujo significado é encontro feliz, então, após sua profunda respiração, disse: - Todos erram, apenas alguns têm direito à segunda chance.
E mudaram de assunto.